Lembranças de infância
Desde menina que me lembro de brincar na chuva de calções e descalça, a minha mãe ralhava e dizia... olha que te constipas... mas adorava aqueles momentos em que os riachos de água corriam sobre os meus pés...porque o tempo da chuva em Angola é quente e como tal não tinha frio.
Outra lembrança que me vem à memória era a fruta apanhada diretamente da árvore e comer desde goiaba, manga, maracujá, abacate bem madurinho sem necessidade de açúcar, vinguanguilas, loengos, nésperas, laranjas azedas.... silvestres, quando o café estava maduro e nas árvores acabávamos sempre por comer aqueles bagos doces...
Quando iamos à loja do Senhor Figueiredo eu e o meu irmão acabávamos sempre por nos sentar na beira do caminho e comer os abacates que caiam de maduro.
No tempo das mangas íamos apanhá-las quando havia muito vento e elas caiam ao chão, são os momentos bonitos que nos passam pela memória.
Nas férias grandes ou pequenas, inventávamos campeonatos de basquetebol no quintal cujos cestos eram dois arcos de barris, juntávamos a malta toda fazíamos equipas completas e o jogo começava, com pontuação e tudo, até árbitro havia, juntávamos grupos de miúdos, rapazes e raparigas para construir as equipas quem comandava era o meu irmão e até tinha jeito, o pior eram as lutas dentro do campo, tanta coisa boa que teve a minha infância...
Mais tarde na adolescência veio o desporto a sério, primeiro na Escola Industrial e mais tarde no Sporting Clube do Huambo, com algumas passagens pelo Mambroa, mas o meu clube era o Sporting, só podia ...o meu pai foi um dos melhores jogadores de futebol de Nova Lisboa, Meton Gerássimos Lychnos, ainda há amigos que se lembram dele e da maneira como jogava, era um dos jogadores centrais.
Um dia foi convidado pelo Sporting Clube de Portugal para fazer parte da equipa principal, os dirigentes do SCH decidiram que seria uma grande perda para clube, não deram a conhecer nada ao meu pai sobre o convite, quando o meu pai soube desligou-se do clube, deixando de fazer o que mais gostava jogar futebol, ...coisas da vida!!
A partir dessa altura o meu pai sentiu-se triste, gostava de ter conseguido ir mais longe, não por ser ambicioso mas sim por acreditar nele mesmo que podia enfrentar jogadores com outra preparação.
Tenho inúmeras lembranças, hoje conto muitas delas à minha princesa que adora ouvir estes relatos todos, porque são reais e ela conhece algumas pessoas.