terça-feira, 11 de dezembro de 2012

Maria Maboque

 Maboque tem uma pequena história


Quando a avó Lurdes faleceu o meu companheiro de jornada compôs um tema em sua homenagem, "Maria Maboque", durante muito tempo dedilhou a canção mas nunca teve a pretensão de gravar, fazia imensas composições ... não porque quisesse ser reconhecido por isso mas sim para dar aso à sua criatividade,
Este tema irá sair em CD brevemente não pela voz do autor  que infelizmente não está entre nós e sim pela mão de um grande amigo de Nova Lisboa "Ruca Miranda" a quem pedi que desse voz a esta musica linda que foi criada com tanto carinho.

O Ruca fez um trabalho magnifico  e sem sombra de dúvida a musica tem sido um sucesso no facebook e no Youtube as pessoas gostam da musica e da letra, fico feliz pois este acontecimento será uma homenagem merecida a quem gostava de musica e tentava criar algo.



Tenho saudades....

01-12-2012







Tenho saudades....




Regressando um pouco no tempo ....e voltando a Angola , conheci a avó Lurdes tinha 4 ou 5 anos, criamos logo uma empatia enorme, ela gostava de mim e eu gostava dela, vinda do Moxico mais propriamente de Vila Teixeira de Sousa, instalou-se em Nova Lisboa devido à separação  do marido o avô Santos, aos poucos fomos criando uma proximidade de neta e avó, entretanto ela como estava sozinha e ainda era uma mulher bastante jovem acabou por casar com o avô Miguel um homem de GRANDE carácter, considero eu, uma pessoa singular e digo isto que mais à frente terei oportunidadehttp://discountbu-a.akamaihd.net/items/it/img/arrow-10x10.png de falar de gestos de grande altruísmo  deste homem, voltando à avó Lurdes dada a nossa proximidade eu frequentava a casa dela todos os dias, andava na 2ª classe quando ela me pediu para escrever uma carta,  ela disse .... pega no papel e escreve o que te vou dizer, uma vez que ela não o sabia fazer e assim iniciei pela primeira vez a minha relação de confidente da avó, todas as  semanas chamava-me e eu lá estava a escrever o que ela ditava, tinha muitas amigas com quem mantinha um contacto habitual pelo correio e então a correspondência era muita, gostava destes pedacinhos à noite, embora fosse muito nova adorava ouvir e até escrever o que ela ditava nas suas cartas, quando chegava correio era chamada para fazer a leitura e assim transmitir à avó o que lhe diziam as amigas, muitas vezes e dada a minha falta de experiência não conseguia decifrar algumas caligrafias... ela perguntava: então não consegues ler o que está aí escrito?? eu dizia que não... provavelmente algo importante ... aí era um problema.... tentava várias vezes ver que letras lá estavam escritas, e... com algum esforço a maior parte das vezes conseguia, e assim os anos foram passando tornei-me numa adolescente... talvez com mais tempo para namoriscar do que escrever, mas como tinha este compromisso que já vinha de anos obviamente que continuei, ela gostava mesmo da escrita, pena não  o pudesse fazer porque  tinha imensas histórias para contar e sabia conta-las.
Tinha uma memória de elefante.... quantas vezes me perguntava por pessoas com as quais tínhamos lidado e eu não me lembrava... ela no seu português dizia ...aka ... não te lembras?? moravam lá perto de casa dizia ela
O Avô Miguel era uma pessoa de bondade extrema, adorava a sua Milú (Avó Lurdes) gostava de ajudar quem precisasse, não porque quisesse enaltecer o seu ego,  era assim mesmo um homem reto e bondoso, trabalhava nos Caminhos de Ferro de Benguela, não sei e nunca soube qual o cargo, foi meu padrinho de casamento bem como a avó Lurdes,  pessoas que eu tinha em grande estima, assim como toda a minha família e especialmente o meu pai era muito amigo do avô Miguel passavam as tardes de domingo a ouvir o relato sendo de clubes diferentes o meu pai sportinguista e o avô Miguel Benfiquiista, partilhavam as suas conversas sobre o deporto rei.
Quando o avô Miguel partiu deixou imensas saudades, especialmente pelo carinho com que tratava toda a gente, tinha sempre lugar na mesa para quem chegasse e lhe batesse á porta... era assim ... em Angola e por Portugal tanto a avó Lurdes como o avô Miguel eram pessoas muito especias, enquanto este casal viveu na Quarteira, podíamos ser muitos, mas havia sempre espaço para mais um, pessoas desta envergadura são especiais e merecem que sejam admiradas mesmo depois de mortas, é esta a minha maneira de pensar enquanto ser humano este casal deu-me lições com as quais aprendi imenso, um bem haja e os meus agradecimentos por terem feito parte da minha vida.
Um dos motivos da minha admiração pelo avô Miguel,  foi quando o ex-marido da avó Lurdes veio viver para Nova Lisboa, no inicio viveu com o filho Manuel Jacaré, figura muito conhecida pelas caçadas nos rios de Angola , entretanto vieram tempos difíceis dado que não havia entendimento entre o ex-marido da avó Lurdes,( avô Santos) como nós o tratávamos e a nora,  o avô Santos ficou doente,  as relações entre filho, pai e nora complicaram-se.
Após uma conversa entre a avó Lurdes e  o avô Miguel concluíram que o melhor seria o avô Santos ir viver para a casa deles obviamente que foram alvo de grandes criticas por parte dos seus  vizinhos, como é habitual nestas situações, mas este casal lindo conviveu muito bem com essas criticas e merece o meu aplauso pela atitude que tiveram com uma pessoa que precisava de auxilio sem olharem ao passado.
Assim, o avó Santos ficou rodeado do carinho das netas Belinha e Nelinha, o avô Miguel e a avó Lurdes deram uma lição a todos quantos os criticaram aquando do acolhimento do avô Santos em sua casa.

Ouvi muitos comentários depreciativos, tais como "Ela agora tem os dois maridos em casa"  outro "Será que dormem os três na mesma cama", infelizmente a linguagem do povo é severa, mas como diz o velho ditado só quem mora no convento é que sabe o que lá vai dentro, o avó Santos dormia num dos anexos da casa. 

A vida da voltas e voltas!!!